Como devo me comportar diante de um
texto? O teatro é como água, deve se desenhar conforme as linhas do seu corpo. O
teatro deve fluir, o artista deve digerir teatro, ser apenas. Ser aculturado de
qualquer sistema. Artista e água batem, se batem e debatem esculpindo algo que
pode ser que “algum dia” venha se tornar arte.
Sempre que inicio a leitura de um
novo texto preciso amarrar alguns pontos em relação a ele, a mim, ao dramaturgo
e ao grupo que se uniu com aquele propósito. Então nós atores, falsamente
despretensiosos, caímos no mito: “A Leitura Branca”. Não dá simplesmente para
ligar o botão da leitura branca como se aprende, compreende, no curso de
teatro. Acredito que você tem que deixar técnicas e métodos se acostumarem ao
seu corpo. Depois de um determinado tempo fica impossível para um ator não
pegar um texto que leu 1 ou 2 vezes e colocar várias intenções, dramatizando
falas, construindo a leitura dramática. Poderíamos ler dramaticamente e ainda
pesquisar as palavras e assuntos de cada movimento do texto? De fato o que não
se entende deve ser lido com o mínimo de intenção, mas, o que já se compreende
fica oco e seco se você fica tentando “brigar com a água”.
Se existem intenções a serem exploradas,
“explore”! Este é o momento “Sherlock Holmes”
do trabalho, investigue! Investigue exaustivamente, mas, com cuidado. Pois
investigar também pode ser uma viagem marítima sem volta e, nesse momento, o
retorno de volta à praia é muito importante. Intenções do dramaturgo, intenções
do assunto, intenções de cada personagem, de cada cena, de cada frase e
palavra, as intenções do diretor, de cada ator, suas intenções em relação ao
trabalho, as intenções do grupo... Brinque, brigue, siga as rubricas, mas, em
sequencia chore onde tem escrito risos, gritos, aqueça a voz regule a postura na
cadeira e “meta o aço a ler”. Mas, seja branco, não na técnica, mas no seu
estado investigador. Seja um “guerreiro branco”. Branco pode ser uma imagem de
um recipiente vazio, mas, também, pode ser de um recipiente transbordando.
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