sexta-feira, 22 de março de 2013

Um guerreiro branco por uma leitura branca


 
Não dá pra explicar o que não se entende

Como devo me comportar diante de um texto? O teatro é como água, deve se desenhar conforme as linhas do seu corpo. O teatro deve fluir, o artista deve digerir teatro, ser apenas. Ser aculturado de qualquer sistema. Artista e água batem, se batem e debatem esculpindo algo que pode ser que “algum dia” venha se tornar arte.

Sempre que inicio a leitura de um novo texto preciso amarrar alguns pontos em relação a ele, a mim, ao dramaturgo e ao grupo que se uniu com aquele propósito. Então nós atores, falsamente despretensiosos, caímos no mito: “A Leitura Branca”. Não dá simplesmente para ligar o botão da leitura branca como se aprende, compreende, no curso de teatro. Acredito que você tem que deixar técnicas e métodos se acostumarem ao seu corpo. Depois de um determinado tempo fica impossível para um ator não pegar um texto que leu 1 ou 2 vezes e colocar várias intenções, dramatizando falas, construindo a leitura dramática. Poderíamos ler dramaticamente e ainda pesquisar as palavras e assuntos de cada movimento do texto? De fato o que não se entende deve ser lido com o mínimo de intenção, mas, o que já se compreende fica oco e seco se você fica tentando “brigar com a água”.

 Se existem intenções a serem exploradas, “explore”!  Este é o momento “Sherlock Holmes” do trabalho, investigue! Investigue exaustivamente, mas, com cuidado. Pois investigar também pode ser uma viagem marítima sem volta e, nesse momento, o retorno de volta à praia é muito importante. Intenções do dramaturgo, intenções do assunto, intenções de cada personagem, de cada cena, de cada frase e palavra, as intenções do diretor, de cada ator, suas intenções em relação ao trabalho, as intenções do grupo... Brinque, brigue, siga as rubricas, mas, em sequencia chore onde tem escrito risos, gritos, aqueça a voz regule a postura na cadeira e “meta o aço a ler”. Mas, seja branco, não na técnica, mas no seu estado investigador. Seja um “guerreiro branco”. Branco pode ser uma imagem de um recipiente vazio, mas, também, pode ser de um recipiente transbordando.

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