segunda-feira, 22 de agosto de 2011

3° Encontro de Dança do RN

“Entre a Dança e a Espada”


No inicio destes ventos de agosto tive a oportunidade de participar (assistindo e fazendo oficinas) de mais uma edição do Encontro de Dança do RN produzido por Diana Fontes, que mais uma vez mostra sua garra e vontade de fazer algo pelo nosso estado já tão sucateado pelo poder público. Participando do encontro vemos sua importância, e chamo a atenção para um diagnóstico: temos poucas estréias, a maioria dos espetáculos tem mais de dois anos. São espetáculos, com certeza, maravilhosos e que merecem participar do encontro, deste e de outros, mas, isso significa que, assim como o teatro, a dança também tem dificuldades de montagem derivadas da falta de políticas públicas para esse que é o pilar principal do artista. Se o artista não constrói, não consegue ser, e muitas vezes para construir necessita de abrir mão de elenco, iluminação, cenários, figurinos, e outros profissionais, ou seja, sua obra fica a mercê de verba. Como a montagem de um espetáculo não é algo que as pessoas vêem, não é um evento para o grande público e não gera publicidade a Funcarte e a Fundação José Augusto não estão “nem aí” para a criação de um edital de montagem. Estão, com certeza, preocupados com os votos que eventos como “Agosto da Alegria” e o show do ”Diante do Trono”, podem gerar. Não bastando apenas aos Natalenses uma indignação pela gestão da prefeitura de Natal, o bailarino Tuto, do Balé da Cidade de São Paulo, falou no palco, durante a apresentação do espetáculo “Divinéia”, uma boa piada com o desfecho: “você chegou aqui porque caiu num buraco de Micarla?” Nossa resposta está no palco, seja no teatro, na dança ou na música o artista no RN é um “danado”! E com certeza é no palco que mostramos a que viemos a esses que se dizem políticos e que estão no poder.



3º Encontro de Dança do RN, oficina com Lavinia Bizzotto “A arte da Dança”

...é incrível como o contato é complexo e lhe coloca em jogo com técnicas, sensações e estímulos dramatúrgicos. Dependendo de como você se envolve na preparação, o “contato e improvisação” pode ser a melhor forma de criar, desde que você seja sujeito tendo domínio do espaço como um todo, entrando em contato com o mundo.

A experiência vivida na oficina de Lavínia foi extremamente compensadora, no sentido do equilíbrio que o verbo compensar possa ter, pois, se na vida do homem sua busca deve ser por equilíbrio, com o “homem artista” a zona de busca por equilíbrio percorre dois caminhos paralelos e que se bifurcam de vez em vez que o corpo rompe a barreira racional e se permite a vontade de ser corpo, mais nada. Um desses caminhos é a técnica, que se revela na purificação do corpo, um caminho árduo, de entrega e generosidade. Praticar tecnicamente já é, por si só, uma “puxada de tapete”, pois, é vendo minha filha de um ano e dois meses dando seus passinhos, indo e vindo, que percebo que a técnica é algo de uma essência primitiva que se coloca através da criação, imitação, repetição e da memória. O artista que se permite à técnica vive em guerra. Deve comer bem no jantar, pois no outro dia almoçará no inferno, mas, em compensação chegará à glória. O outro caminho, o da emoção, é o do sensitivo, da intuição, da associação, da criação. Esse caminho deve ser explorado com um único estímulo, aquele que quem é de teatro deve ouvir bastante: “se jogue”! Porém, responsabilidade é indispensável, e quando fazemos isso com responsabilidade, nosso material tem muito mais consistência, riqueza, beleza e poesia. Essa responsabilidade vem através da busca técnica, quando chegamos ao processo criativo e descobrimos algo valioso é porque encontramos o ponto de bifurcação desses caminhos. A oficina de Lavínia me permitiu compreender ainda mais o processo criativo, seu trabalho com dança e teatro é bastante paralelo e bifurcado, hora estamos em um e hora em outro, e eles se encontram o tempo todo, em mim ficou uma leve sensação de equilíbrio entre consciente e inconsciente, como se a mim fosse permitido ser “louco”. E, se Lavínia descobriu, ou está descobrindo, em sua trajetória de bailarina/atriz uma harmonia entre dança e teatro, saio dali com muito mais vontade de fazer um teatro que dança.

3º Encontro de Dança do RN, Oficina de Clébio Oliveira, Corpo Provisório

Existem muitas maneiras de se conduzir um trabalho, na verdade a experiência de passar conhecimento é uma arte, só essa dedicação de preparar o outro já é uma obra. Mas como diz a performer potiguar Cris silva, em seu manifesto da fome, “desconfie daqueles que ensinam arte e não são artistas”. Na oficina de Clébio percebi uma maneira de estar presente e comprometido com o trabalho de ensinar, mas de uma forma desprendida, como se ali fosse um artista e depois um professor. Quando um artista dá uma oficina ele troca conhecimento, quando professor dá ele ensina o conhecimento. Talvez a troca seja algo de ordem da emoção e da sensação. Cada vez mais descubro, tanto nos novos pesquisadores como nos antigos como Stanislavski, que criar é pensar com o coração, não com o cérebro, a mente é o corpo todo. O corpo de Clébio dança o tempo todo e sua voz nos permite rir, o compasso de seu trabalho é marcado por um tambor, que depois de uma jornada no Brasil, reside nos territórios da Alemanha, onde o teatro épico, a dança teatro e a arte pulsam diferentes. A oficina entrou num compasso energético e colocou o elenco em contato com técnicas simples, e por serem simples são especiais, pois a “ação mais forte requer o mínimo de cuidado” e Clébio reforça “cuidado com a cervical”. Técnicas de balé clássico e dança contemporânea, que se encontram com improvisações de animais, estímulos de movimento, visão periférica, contato e jogo. Para mim em especial desse trabalho ficará a reflexão de como conduzir uma oficina, ainda mais quando se tem pouco tempo. Devemos colocar junto da nossa metodologia, entre as fichas de aula, o coração.

A era do sujeito

Depois de um século XX cheio de vanguardas artísticas devemos nos perguntar o que será desse novo século. Percebo cada vez mais que aquele que antes era visto apenas como interprete ou elenco, está aparecendo cada vez mais como um sujeito da criação. O bailarino, o ator e o performer estão seguindo uma evolução inevitável da arte e se tornando atuantes, sujeitos da ação, criadores do processo. Devemos nos perguntar se depois do Manifesto Futurista, Dadaísmo, Surrealismo, Bertold Brech, Antonin Artaud, Pina bausch, Grotowisk e outros contemporâneos, se a arte ainda vai se estabelecer em guetos de linguagem e estética ou vai se difundir em “arte do corpo” . O artista está cada vez mais consciente de ser artista, e do que isso significa na sociedade. Claro que isso acontece mais com uns do que com outros, o que é normal. Um exemplo disso aconteceu no “Circuito Bodearte de Performance”, na sede do Facetas, poucos bailarinos e atores apareceram. Assim como no Festival de Teatro, poucos bailarinos e performes aparecem. Com o Encontro de Dança não foi diferente. É quase uma celebração apenas de quem faz dança, o que não é objetivo de seus idealizadores, que querem difundir a “dança do elefante (RN)”. Mas, é quando apreciamos a mostra desses guetos que vemos o quanto que a coisa já está inconscientemente difundida, vemos a necessidade de formação e discussão. Dentro do processo, mesmo de criação do espetáculo, percebemos a presença de bailarinos, atores e performes, assim como diretores e coreógrafos trabalhando juntos. É lógico que desse caldo vai sair algo bastante temperado e o poder público tem a obrigação de fomentar o artista dentro de sua cidade, principalmente nas comunidades e escolas. É incrível perceber que o ser humano está em evolução e que nunca teremos o controle disso por ser um curso natural.

Dentro do encontro de dança foi perceptivo, tanto nas oficinas como nos espetáculos, que a coluna vertebral da dança está apontada para o teatro. Foi muito bom ver que o bailarino natalense está buscando, presença e visceralidade, não só através da técnica, mas da dramaturgia e do jogo. Agora é necessário correr atrás disso e ir além. A barreira entre dança e teatro é sutil e já acontece naturalmente. É recorrente percebermos uma dramatização da cena e do movimento, e a tentativa de interpretar um personagem, mas, esse caminho é superficial, medíocre, e não tem teatralidade. Então a dança contemporânea, que é algo subjetivo e significativo, se torna uma “novelinha” e, convenhamos isso não é nada interessante. O que pode ser a tentava de interpretar superficialmente, pode levar abaixo toda a pesquisa desenvolvida. Essa busca de trazer o teatro para o palco da dança deve acontecer na formação e apreciação. Quanto mais os bailarinos e coreógrafos treinarem, buscarem oficinas, e assistirem espetáculos, mais a transformação vai acontecer de forma natural. Se vou falar um texto ou fazer uma ação, preciso buscar formação, senão ficarei perdido e as frases que saem da minha boca não querem dizer nada. O mesmo vale para os grupos de teatro que se aventuram na dança, treinem! É comum nas oficinas as pessoas virem um dia faltarem dois, ou as oficinas abrem vagas e não são preenchidas. Esse comportamento é provinciano e comum entre os artistas da cidade. Para nos tornamos sujeitos devemos estar muito além do conforto, devemos experimentar o ódio e o amor na mesma medida, devemos sempre “beber sangue”.







quinta-feira, 4 de agosto de 2011

GAMBIARRA 6 de agosto

No sábado 6 de agosto teremos mais uma edição do Gambiarra: Espaço de Experimentações Artísticas, neste ano a novidade é que sempre teremos apresentações do Facetas, na ocasião apresentaremos um extrato de cena entitulado "Moça de Família" que é fruto da encenação "Sete" apresentada pelo grupo na Mostra de Arte Carlão Lima em 2010, no TECESol e na Casa da Ribeira.






Gira-dança

As outras apresentações ficam por conta da Cia Gira-dança que são parceiros antigos do Facetas e também realizam atividades enquanto Ponto de Cultura na cidade do Natal e o músico e ator e também grande parceiro, Caio Padilha.



Aproximem-se, experimentem e vivam conosco mais uma Gambiarra.